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Pais e funcionários processam escola por fechar as portas sem aviso prévio em Rio Preto: 'Deixados para trás'

Após 41 anos em atividade, o Colégio Universitário Rio Preto fechou suas portas sem aviso prévio, pegando os pais de surpresa e revelando uma série de prob...

Pais e funcionários processam escola por fechar as portas sem aviso prévio em Rio Preto: 'Deixados para trás'
Pais e funcionários processam escola por fechar as portas sem aviso prévio em Rio Preto: 'Deixados para trás' (Foto: Reprodução)

Após 41 anos em atividade, o Colégio Universitário Rio Preto fechou suas portas sem aviso prévio, pegando os pais de surpresa e revelando uma série de problemas com os funcionários. Comunicado foi enviado somente aos pais e alunos por meio do aplicativo do colégio Reprodução Uma escola de São José do Rio Preto (SP) está sendo processada por funcionários e pais de alunos após ter fechado as portas sem aviso prévio, no início de janeiro. Recentemente, a instituição anunciou a abertura das matrículas para o novo ano letivo. Agora, os trabalhadores aguardam um posicionamento da direção sobre o pagamento dos salários, e os pais querem ressarcimento da mensalidade. 📲 Participe do canal do g1 Rio Preto e Araçatuba no WhatsApp O g1 conversou com três pais de alunos matriculados e cinco professores que trabalham na unidade. Eles contam que a escola enviou, no dia 8 de janeiro, um comunicado, por meio de um aplicativo, sobre os rumores do fechamento da instituição. Entretanto, a direção reforçava, até então, que não era necessário se preocupar, uma vez que estava negociando o funcionamento no mesmo prédio. Contudo, dois dias depois, segundo os pais, o proprietário do local enviou um vídeo para anunciar oficialmente o fechamento da unidade. A reportagem entrou em contato com o responsável pela unidade, Flávio Augusto Teixeira, bem como com a direção da escola, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. Na segunda-feira (20), a Justiça emitiu uma decisão liminar - proferida para conceder um direito de forma antecipada - na qual bloqueia a venda dos veículos em posse de Flávio, bem como bloqueou a venda de imóveis. Insegurança após fechamento do colégio A professora de língua portuguesa Maria Angélica Lofrano Zanin Buchdid, de 62 anos, que trabalhou na instituição por 31 anos, foi uma das afetadas. Segundo a profissional, o impacto da notícia deixou os colaboradores preocupados, uma vez que eles enfrentam dificuldades financeiras há meses. "Eu não recebi o salário de dezembro, nem o 13º salário de 2024. E, também, ele [proprietário] não vem depositando o Fundo de Garantia. Eu já sou aposentada, mas a minha aposentadoria é pequena, então, eu continuo trabalhando. Não recebo seguro-desemprego. É uma coisa desesperadora", desabafa. Maria também explica que há tempos já havia rumores do fechamento da escola, mas que o proprietário negava os boatos. "Ele seguia dizendo que estava tudo bem, inclusive, ele ia na escola e tirava sarro do boato que a escola estava à venda. Em dezembro, no encerramento do ano letivo, ele fez uma reunião dizendo que ele estava sofrendo uma ameaça de perder o prédio, não disse o motivo, disse simplesmente que o proprietário queria o prédio de volta, mas ele disse que estava dando um jeito e que ia dar tudo certo. Depois, atribuiu aulas aos professores. Inclusive, me foram atribuídas 35 aulas", conclui. Maria Angélica Lofrano soube do encerramento das atividades do colégio por mensagem, após seu neto, que estudava na escola, receber o vídeo pelo aplicativo da instituição Arquivo pessoal Manuela Chacon Villanova de Jesus, de 46 anos, professora do ensino fundamental há pelo menos 10 anos na escola, também foi pega de surpresa. De acordo com ela, os responsáveis pela instituição não deram um posicionamento sobre o pagamento dos salários e direitos trabalhistas, além de atrapalharem o estudo dos alunos, que, agora, precisarão ser remanejados para outras escolas. "Fiquei arrasada com a notícia. Até o momento, nenhum responsável nos atendeu quanto ao pagamento dos nossos salários referentes ao mês de dezembro, que já deveria ter sido pago", reforça. LEIA TAMBÉM: Escola particular de Sorocaba é despejada por falta de pagamento de aluguel Falta de informação O professor e funcionário da instituição Vinicius Renofio, de 35 anos, lamentou a situação e afirmou que nenhum dos professores foi informado diretamente sobre o fechamento da unidade e que, desde o anúncio, não foi possível fazer contato com o proprietário. "Da parte dos funcionários, ele simplesmente saiu da escola, sem contato nenhum com ninguém. Então, a surpresa foi grande, a indignação também foi grande. Ele deixou todo mundo com uma mão na frente e outra atrás, infelizmente. Nós tentamos contato, eu tentei pessoalmente contato direto com ele, mas ele não respondeu desde a publicação do vídeo, ele realmente sumiu", lamentou Marcos. Ele também relatou que alguns funcionários ficaram sem qualquer tipo de suporte para acertar suas rescisões de contrato. "Não houve pagamento das verbas rescisórias, nem a baixa nas carteiras de trabalho. Fomos deixados para trás, sem qualquer tipo de acerto", finaliza. No dia seguinte ao anúncio do fechamento, em 11 de janeiro, os pais informaram que um caminhão já estava estacionado em frente à escola recolhendo as carteiras de sala de aula, o que indicava que o processo de desmobilização estava em andamento. Para eles, o fechamento foi premeditado. "Um dia após o vídeo ser divulgado para os pais, já encostou um caminhão na escola e começou a fazer 'limpa' de carteira, porque ele já tinha vendido tudo. Então, fez tudo premeditado para pegar o dinheiro mesmo e sumir, fez as matrículas dos pais, tudo já sabendo que a escola estava afundado. Infelizmente, levantou um dinheiro e sumiu", aponta Marcos. No sábado, dia 11 de janeiro, pais e professores registraram um caminhão sendo carregado com itens da escola Reprodução Além dos salários não pagos, muitos professores enfrentam dificuldades para se recolocar no mercado de trabalho, tendo em vista que, em instituições de ensino, o planejamento para o ano vigente ocorre sempre com antecedência. "Em nossa área, as contratações para o próximo ano letivo acontecem até dezembro. Com o fechamento repentino, fomos pegos de surpresa e, agora, estamos tendo dificuldades para encontrar emprego", disse Marcos. Impacto financeiro Para alguns pais, o impacto financeiro foi profundo. Carolina Lemos, de 45 anos, mãe de dois alunos do colégio, já havia pago a rematrícula de seus filhos quando foi surpreendida pela notícia. "Paguei a rematrícula, a mensalidade de janeiro estava programada, mas deu tempo de cancelar. Recebemos um vídeo vago, duas semanas antes de começar o ano, anunciando o fechamento da escola e, até agora, não recebi o reembolso do valor que paguei", conta. Com os filhos estudando no colégio desde 2020, Carolina explica que morava ao lado da escola e tinha inúmeras facilidades com os filhos estudando no local. Rapidamente, ela precisou lidar com a procura por outra instituição de ensino, além da incerteza sobre o reembolso de mais de R$ 2 mil investidos. "Foi uma correria para achar escola. Como tenho dois filhos, era difícil encontrar vaga para os dois. Tive sorte ao conseguir isenção na matrícula na escola em que matriculei eles, porque comprovei que já havia pago a rematrícula em outra instituição", conta. Ressarcimento Ariane Tosti, de 36 anos, mãe de um dos alunos do colégio, também relatou que havia pago um semestre inteiro de mensalidade de forma antecipada, no valor de R$ 15 mil, ainda no dia 6 de janeiro. Após o comunicado, a mulher comentou que a escola informou que devolveria o dinheiro em até sete dias úteis, o que, segundo ela, aconteceu conforme o prometido. Ariane ainda destacou que, apesar de todo o sofrimento, ela acredita que o proprietário tentou lutar para que a situação fosse resolvida. "Eu recebi todo o meu dinheiro. Eu acredito que ele tenha lutado até o final, mas errou ao não comunicar a situação aos pais e aos funcionários de forma adequada", afirmou a mãe. Ação na Justiça O advogado João Paulo Lefundes Coelho, de 38 anos, que está à frente de processos envolvendo pais e funcionários do Colégio Universitário e explicou que já protocolou algumas ações e que há mais vítimas. "São ações trabalhistas que visam garantir os direitos dos empregados, com base na legislação federal e também na Convenção Coletiva de Trabalho. Estão sendo cobradas as verbas referentes aos depósitos do FGTS (não foi depositada quase a totalidade de todo o período contratual), salário do mês de 12/2024, 13º salário, e, no caso dos professores que tiveram os contratos rescindidos, também estão sendo cobradas as verbas rescisórias, dentre outros direitos", explicou. Ele também mencionou que alguns pais de alunos, que haviam pago as rematrículas ou mensalidades, ainda não foram reembolsados. "Para os pais dos alunos, a má-fé está em receber valores de matrículas mesmo sabendo que a instituição iria fechar. Muito desses pais agora não têm dinheiro para matricular seus filhos em outras escolas. Nenhuma justificativa foi dada", conclui. Ainda segundo o advogado, as ações judiciais estão sendo propostas em face de várias pessoas jurídicas, pois, aparentemente, se trata de um grupo empresarial, sendo que as empresas se encontram no nome dos filhos do proprietário, que é o real dono. No começo da semana, por meio de nota, a instituição informou os pais que está ciente dos transtornos que a situação pode ter causado e que trabalha para garantir que todos os assuntos financeiros pendentes sejam resolvidos de maneira transparente e ágil. Ainda esclareceu que a devolução dos valores pagos a título de mensalidade referentes a janeiro de 2025 será feita até sexta-feira (24), e o processo de ressarcimento dos valores pagos referentes à matrícula de 2025 terá início na próxima semana, a partir do dia 27 de janeiro. Até a publicação desta reportagem, o processo judicial seguia em andamento, e os funcionários afirmaram que ainda não haviam recebido nenhum respaldo por parte da empresa em relação aos seus direitos trabalhistas. *Colaborou sob supervisão de Gabriela Almeida Veja mais notícias da região no g1 Rio Preto e Araçatuba VÍDEOS: confira as reportagens da TV TEM